Fiocruz
no Portal
neste Site
Fundação Oswaldo Cruz
Página Principal

Evento da ABC reuniu especialistas para debate sobre avanços científicos em dengue

Promovido pela Academia Brasileira de Ciências (ABC), o evento Ciência e Tecnologia para o combate ao dengue reuniu nos dias 5 e 6 de junho especialistas de diversas áreas para discutir a  pesquisa em dengue. Pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) apresentaram estudos sobre kits de diagnóstico e o desenvolvimento de vacinas.

 Foto: Gutemberg Brito

 
 conferencia abc

Haroldo Bezerra, da Secretaria de Vigilância Sanitária (à esq.); Jerson Lima, da Faperj; Jacob Palis, da ABC; Hermann Schatzmayr, do IOC; e Celso Melo, da UFPE, ressaltaram a importância do debate multidisciplinar para o enfrentamento da dengue



O desafio do diagnóstico

A discussão sobre kits de diagnóstico foi coordenada pelo pesquisador da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Celso Melo, e pelo virologista do IOC, Hermann Schatzmayr. “A necessidade de validação de testes rápidos para o diagnóstico da dengue é fundamental, uma vez que a doença evolui rapidamente e deve ser identificada em fase inicial”, destacou Schatzmayr, responsável por liderar as equipes do IOC que isolaram no Brasil os três tipos de vírus da dengue já introduzidos no país (os tipos 1, 2 e 3). A sessão incluiu palestras dos pesquisadores Carlos Calzavara, da Fiocruz-PE, José Luiz de Lima Filho, da UFPE, e de Rita Nogueira e Flávia Barreto, chefe e pesquisadora do Laboratório de Flavivírus do IOC.

 Foto: Gutemberg Brito

 

 Hermann Schatzmayr

 O virologista Hermann Schatzmayr destacou a necessidade de testes rápidos para o diagnóstico da dengue

Para descrever as atividades do Laboratório de Flavivírus do IOC, Centro de Referência Macro-Regional do Ministério da Saúde para o diagnóstico da dengue, Flávia e Rita apresentaram, respectivamente, as palestras Diagnóstico laboratorial da dengue e Aplicação de metodologias laboratoriais na vigilância da dengue. Flavia avaliou diferentes kits de diagnóstico disponíveis no mercado e destacou a importância do diagnóstico laboratorial para a confirmação da doença e sua diferenciação de outras infecções exantemáticas ou com sintomatologia semelhante, como rubéola, malária, hepatite e leptospirose. A pesquisadora ressaltou também a contribuição do uso de métodos moleculares, que permitem a caracterização das cepas virais circulantes, para a vigilância epidemiológica da doença. “De forma geral, os kits de diagnóstico precisam ser mais rápidos. Este é um desafio importante no diagnóstico da dengue”, a pesquisadora sintetizou. 

Rita apresentou as atividades desenvolvidas pelo laboratório durante epidemias, desde 1986, e comparou os diferentes métodos de detecção de vírus utilizados para identificação e caracterização de amostras sorológicas e de tecidos. Entre as metodologias aplicadas ao diagnóstico laboratorial da dengue – PCR, PCR em tempo real, pesquisa de antígenos, isolamento viral, sorologia, histopatologia e imunohistoquímica –, a pesquisadora destacou a técnica PCR em tempo real, que confirmou resultados positivos obtidos por outros métodos e indicou positividade de amostras consideradas negativas por outras metodologias. Segundo a virologista, a técnica está em processo de validação e será sugerida ao Ministério da Saúde como teste confirmatório para o diagnóstico da dengue.

Sobre a epidemia que atingiu o Rio de Janeiro no início de 2008, Rita chamou atenção para a mundaça significativa no padrão epidemiológico da dengue. “De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde, 42% dos casos fatais notificados acometeram pacientes com menos de 15 anos e o estudo da resposta imune indicou um elevado número de infecções sequenciais”, ressaltou. Nas duas apresentações, as pesquisadoras do Laboratório de Flavivírus do IOC chamaram atenção para a importância do monitoramento dos vírus circulantes para a vigilância epidemiológica da dengue, uma estratégia complementar ao controle do mosquito.

 Foto: Gutemberg Brito

 
 Flavia Santos

 A pesquisadora do Laboratório de Flavivírus do IOC, Flavia Santos, destacou a importância do diagnóstico laboratorial para confirmação da dengue e sua diferenciação de outras doenças

Carlos Calzavara apresentou a experiência da Fiocruz-PE na validação de marcadores moleculares da dengue hemorrágica e divulgou a identificação de 40 genes relacionados à imunidade inata que serão prioritariamente estudados por seu grupo de pesquisa. O pesquisador da UFPE, José Luiz Lima Filho, expôs diferentes iniciativas, ainda em desenvolvimento, para identificação precoce do vírus, antes do aparecimento de sintomas. Lima Filho apresentou também um sistema biossensor eletroquímico, em que a amostra a ser avaliada é acoplada a um bioreceptor ligado a um tradutor eletroquímico capaz de traduzir o sinal que indica a positividade da amostra para dengue.

Celso Melo descreveu técnica em desenvolvimento na UFPE que utiliza nanocompostos de intensa luminescência como marcadores fluorescentes da infecção. O método consiste em fixar antígenos do patógeno estudado – no caso da dengue, os quatro tipos de vírus – em superfície preparada com as nanopartículas e em adicionar ao experimento a amostra do paciente. Se o resultado for positivo, o vírus será reconhecido pelo antígeno e destacado pela luminescência.

Dengue: busca por vacina e novos tratamentos mobiliza pesquisadores

No segundo dia do evento Ciência e Tecnologia para o combate ao dengue, 6 de junho, foram apresentadas diferentes iniciativas para o desenvolvimento de vacinas e novos tratamentos para a dengue. Durante o encontro promovido pela Academia Brasileira de Ciências (ABC), o pesquisador da Fiocruz-PE, Rafael Dhalia, ministrou a palestra Desenvolvimento e avaliação de vacinas de DNA contra flavivírus, em que discutiu a possibilidade de adicionar epitopos de outros microrganismos ao vírus atenuado que compõe a vacina contra febre amarela. O objetivo é tornar o imunobiológico eficiente para outras doenças, como dengue e malária. Para o pesquisador, o projeto pode contribuir também para a produção de uma vacina alternativa contra a febre amarela, complementar à atualmente utilizada, que possa atender às especificidades de pessoas alérgicas a proteínas do ovo, imunodeprimidos e idosos – casos em que a imunização não é recomendada. Também da Fiocruz-PE, a pesquisadora Laura Gil apresentou técnicas para a manipulação do genoma dos vírus DENV-1, DENV-2 e DENV-3 e a construção de vírus atenuados, quiméricos e recombinantes.

A pesquisadora Ada Alves, chefe do Laboratório de Imunopatologia do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), descreveu projeto para produção de vacinas de DNA contra a dengue a partir da proteína viral NS1. Envolvida no processo de replicação viral, esta proteína induz uma forte resposta imune e foi eleita como alvo do estudo quando os pesquisadores constataram que pacientes convalescentes apresentam alta concentração de anticorpos contra ela. A pesquisadora divulgou resultados preliminares que indicam efeito protetor significativo de duas das quatro vacinas testadas em laboratório, capazes de induzir resposta imune de longa duração em camundongos.

 Foto: Gutemberg Brito

 
 Ada Alves

 A pesquisadora Ada Alves, chefe do Laboratório de Imunopatologia do IOC, apresentou projeto para desenvolvimento de vacina de DNA contra a dengue

O pesquisador de Biomanguinhos/Fiocruz, Ricardo Galler, expôs projeto desenvolvido em parceria com o IOC para a produção de vacina contra a dengue a partir da manipulação genética do vírus da febre amarela. A metodologia consiste na construção de um vírus recombinante, produzido pela substituição de determinados genes do vírus da febre amarela por estruturas semelhantes do agente etiológico da dengue. Jerson Silva, da UFRJ, defendeu a necessidade de desenvolver uma vacina a partir de vírus inativados, embora projetos que utilizam vírus atenuados apresentem resultados promissores. Neste sentido, apresentou metodologias para inativação de partículas do vírus da dengue.

 Foto: Gutemberg Britto

 
 Ricardo Galler

 O pesquisador Ricardo Galler, de Biomanguinhos, descreveu iniciativa para desenvolvimento de vacina contra a dengue a partir da construção de um vírus recombinante

Expedito Luna, da USP, apresentou projetos de cooperação internacional para produção de uma vacina contra a dengue e destacou iniciativa do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH, na sigla em inglês) em parceria com o Instituto Butantan para o desenvolvimento de uma vacina viva atenuada por genética reversa, a partir da deleção de genes. Testes realizados com animais e voluntários demonstraram resultados positivos para DENV-4 e DENV-1. Para DENV-2 e DENV-3, porém, não foi constatada atenuação.

À tarde, o debate coordenado pela pesquisadora do Laboratório de Imunofarmacologia do IOC, Patrícia Bozza, abordou o tema Epidemiologia, clínica e novos tratamentos. Amílcar Tanuri, da USP, descreveu iniciativas para o desenvolvimento de drogas antirretrovirais para o tratamento da dengue. Marli Tenório, da Fiocruz-PE, apresentou aspectos epidemiológicos da doença em Pernambuco e Bartolomeu Acioli, também da Fiocruz-PE, discutiu métodos para identificação de polimorfismos genéticos preditivos da dengue hemorrágica. Mauro Martins Teixeira, da UFMG, ministrou a palestra Mecanismos de proteção e doença na dengue experimental: desenvolvendo novas terapias, em que avaliou estratégias terapêuticas administradas para o tratamento da inflamação sistêmica provocada pela doença. Andrea da Poian, da UFRJ, abordou os mecanismos de entrada dos vírus da dengue nas células hospedeiras e discutiu o papel da liberação de citocinas e de alterações no metabolismo celular para o desenvolvimento da infecção.

No encerramento do evento, Haroldo Bezerra, da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde; Jacob Palis, da ABC; Celso Melo, da UFPE; e Hermann Schatzmayr, do IOC, parabenizaram a iniciativa e reconheceram a necessidade da integração de pesquisadores de diferentes instituições para o enfrentamento da doença.

Bel Levy

12/06/2008

Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz).

Versão para impressão:
Envie esta matéria:

Instituto Oswaldo Cruz /IOC /FIOCRUZ - Av. Brasil, 4365 - Tel: (21) 2598-4220 | INTRANET IOC| EXPEDIENTE
Manguinhos - Rio de Janeiro - RJ - Brasil CEP: 21040-360

Logos