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Cientistas anunciam substâncias candidatas a anti-retroviral brasileiro

Para jornalistas

Um passo importante na pesquisa de um anti-retroviral brasileiro foi anunciado nesta sexta-feira, 29 de agosto, por pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), da Fiocruz, em parceria com a Fundação Ataulpho de Paiva (FAP) e a Universidade Federal Fluminense (UFF).

Gutemberg Brito

 Pesquisadores apresentam resultados de substâncias candidatas a anti-retroviral

Pesquisadores apresentaram resultados de substâncias candidatas a anti-retroviral

Estudando algas marinhas da costa brasileira, os cientistas descobriram três novas substâncias candidatas a anti-retrovirais para Aids. Os resultados dos testes pré-clínicos são promissores. “O grande diferencial das substâncias estudadas é a baixa toxicidade, uma vez que os medicamentos disponíveis são eficazes, porém tóxicos”, explica o líder da pesquisa, o imunologista Luiz Roberto Castello Branco, chefe do Laboratório de Imunologia Clínica do IOC e diretor científico da FAP. “Neste momento, estamos investigando o mecanismo de ação específica de cada substância candidata, para compreender de que forma elas impedem a replicação viral demonstrada nos testes”, detalha.

O grupo de pesquisadores avaliou 22 compostos naturais obtidos a partir das algas. Três substâncias candidatas ao desenvolvimento de anti-retrovirais foram selecionadas. Em testes in vitro, as substâncias foram capazes de inibir a replicação do HIV em macrófagos e linfócitos, células envolvidas na resposta imunológica do organismo humano frente à infecção pelo vírus da Aids, apresentando desempenho equivalente a fármacos já em uso clínico. Resultados preliminares de testes in vivo comprovaram a baixa toxicidade das substâncias.

As três substâncias anti-retrovirais sob estudo, que têm os nomes guardados em sigilo por ainda estarem em processo de patenteamento, apresentam atividades bastante diferentes. Uma das substâncias apresenta resultados preliminares excepcionalmente positivos, com até 98% de replicação do HIV-1 em testes in vitro, mesmo em baixas concentrações. Isso garante que a substância seja eficaz mesmo quando aplicada em quantidades extremamente reduzidas. "Já foram realizados testes com alta quantidade da substância in vivo e verificamos sua baixa toxicidade", afirma a pesquisadora da UFF, Izabel Paixão.

Gutemberg Brito

 Castello Branco explica ciclo do vírus HIV e a atuação das substâncias

Castello Branco detalhou a ação das substâncias candidatas no ciclo de replicação do HIV

Cláudio Cirne, pesquisador do IOC, destaca que tem crescido em todo o mundo a resistência do vírus aos esquemas terapêuticos disponíveis e uma nova alternativa é fundamental. “A inclusão de mais uma alternativa para a terapia anti-retroviral permitirá atender pacientes que apresentam resistência às combinações medicamentosas existentes, um importante desafio para o tratamento da Aids”, avalia.

As substâncias em estudo podem ser utilizadas tanto para medicamentos destinados ao tratamento de pessoas vivendo com o HIV-1 quanto para a prevenção da contaminação, através do desenvolvimento de um microbicida de aplicação local. O microbicida é voltado para uso vaginal, permitindo às mulheres a prevenção mesmo sem o consentimento dos parceiros.

Os testes para o uso microbicida das substâncias incluem, além dos testes celulares in vitro e in vivo, a testagem em explantes (fragmentos de cérvix uterino humano infectados pelo HIV-1, retirados por biópsia e mantidos vivos em cultura em laboratório). A técnica foi desenvolvida no Saint George’s University of London, na Inglaterra, um dos principais centros de estudo de microbicidas para HIV no mundo, e foi transferida para o Laboratório de Imunologia Clínica do IOC.

Gutemberg Brito

 Pesquisas identificaram três substâncias promissoras

Pesquisas identificaram três substâncias promissoras


Uma das substâncias investigadas pela iniciativa brasileira já foi testada em explantes no centro de pesquisa inglês, por uma pesquisadora do Laboratório de Imunologia Clínica do IOC, e obteve sucesso. Esta substância está entre os 30 candidatos aceitos pela Aliança para o Desenvolvimento de Microbicidas, organização internacional apoiada pela Fundação Bill & Melinda Gates, sendo a única substância latino-americana do grupo.
Castello Branco adianta que os testes do microbicida com humanos devem começar em 2010. “Além do Brasil, faremos um estudo clínico na África, onde há uma incidência muito alta do vírus, já temos o protocolo montado”, diz ele.
 
Impacto econômico - “A iniciativa é resultado da convergência de diferentes interesses científicos na investigação de produtos nacionais que possam combater o HIV e poderá representar uma grande economia para o país, que gasta mais de R$ 1 bilhão por ano com o pagamento de royalties e a compra de medicamentos desenvolvidos no exterior", considera Castello Branco.

Envolvido nos estudos da Aids desde o surgimento dos primeiros casos no país, ele é incisivo em afirmar a relevância estratégica do desenvolvimento de um anti-retroviral nacional. “Os ganhos envolvem a independência no desenvolvimento tecnológico, o fortalecimento da indústria nacional, a formação de profissionais altamente qualificados e a economia de recursos, sem contar a possibilidade de exportação do produto”, avalia o imunologista. Com exceção do AZT, todos os medicamentos usados hoje na terapia anti-retroviral são importados ou têm seus insumos importados, sendo sintetizados no Brasil com expertise estrangeiro.
Segundo ele, caso as substâncias sejam aprovadas nos testes clínicos, elas podem representar uma economia para o país entre R$ 50 milhões e 100 milhões, por ano.

O investimento das instituições para os estudos em andamento é de US$ 1.5 milhão. O Programa Nacional de DST/Aids teve um investimento de R$ 210 mil. “Se tudo correr como planejamos, daremos início à fase clínica, com testes em pacientes, em 2010”, Castello Branco anuncia.

Cristina Possas, assessora técnica da Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento do Programa Nacional de DST/Aids, destaca que “os anti-retrovirais utilizados hoje são muito tóxicos, levando a problemas metabólicos e neurológicos, portanto o programa vê com muita esperança a descoberta de novas substâncias com ação anti-retroviral, mas com baixa toxicidade”.

A diretora do IOC, Tania Araújo-Jorge, afirma que a pesquisa pode significar um avanço importante no combate à Aids. “Quando mais de 1.5 milhão de pessoas só na América Latina estão com a doença e aqui no Brasil mais de 13 mil casos foram notificado só no ano passado, apresentar avanços promissores no campo da Aids é sempre uma grata novidade, que responde à missão do Instituto de desenvolver instrumentos e insumos para a melhoria da saúde da população”, comenta, acrescentado o papel histórico da Instituição: “O vírus da Aids foi isolado pelo IOC em 1987 e desde então abraçamos o compromisso de gerar conhecimento para esta doença que se coloca como um desafio global”.

Bel Levy
29/08/08

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