Fiocruz
no Portal
neste Site
Fundação Oswaldo Cruz
Página Principal

Perspectivas no desenvolvimento de vacinas contra Aids

A pesquisa de vacinas contra a Aids foi tema do Centro de Estudos do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) na última sexta-feira, 5 de setembro. A palestra ministrada pelo pesquisador russo Saladin Osmanov, coordenador da Iniciativa Conjunta de Vacinas contra o HIV da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV e Aids (Unaids), resgatou a história da busca por uma vacina eficiente contra a doença e abordou os principais obstáculos para seu desenvolvimento nos dias atuais. O epidemiologista analisou, ainda, resultados de alguns dos mais recentes testes com possíveis candidatos a vacina e discutiu o papel fundamental dos países em desenvolvimento nesta iniciativa.

Gutemberg Brito

 Osamov é coordenador da Iniciativa Conjunta de Vacinas contra o HIV da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV e Aids (Unaids)

O epidemiologista resgatou a história das tentativas de desenvolvimento de vacinas contra a Aids e discutiu os resultados dos mais recentes testes realizados

Envolvido há décadas com projetos de desenvolvimentos de possíveis vacinas contra a Aids, Osmanov recordou o início das pesquisas nessa área e ressaltou as dificuldades de lidar com o HIV ainda nos dias de hoje. "Os primeiros testes pré-clinicos de estratégias de imunização contra a Aids, baseadas no vírus inativado ou atenuado, aconteceram no fim da década de 1980", lembrou o especialista. "Logo percebemos que dificuldades técnicas  e de biossegurança envolvidas nesse processo impediam a continuidade desta linha de pesquisa para obtenção de uma vacina".

Um dos principais problemas enfrentados pelos pesquisadores na obtenção de uma vacina contra a Aids, segundo Osmanov, é a grande capacidade de mutação do vírus. "Esse fato sempre representou um obstáculo a ser transposto, mas temos observado, nos últimos anos, um aumento do número de cepas recombinantes do vírus, que têm ganhado importância epidemiológica, em especial no sudoeste da África", contou o pesquisador, que apresentou um mapa com a distribuição global das diversas linhagens do vírus. "Dessa forma, tem sido mais complicado estudar a epidemiologia do HIV e desenvolver produtos que possam ser capazes de imunizar contra todas as variantes do vírus."

O epidemiologista afirma, no entanto, que as pesquisas mais atuais têm procurado novas vias para a criação de vacinas. "Nenhum produto desenvolvido jamais conseguiu estimular o organismo a produzir anticorpos que neutralizem o vírus antes que ele se estabeleça no corpo, por isso a maioria das vacinas testadas hoje ativa o sistema imunológico de modo a manter o vírus sob controle, impedir o surgimento dos sintomas e prolongar a vida dos pacientes", explicou. "Para ter mais chances de sucesso as estratégias propostas atualmente também têm combinado a ação sobre diferentes elementos do sistema imune, como células T, que atuam sobre as células infectadas pelo vírus, e B, ligadas à produção de anticorpos."


Gutemberg Brito

 O russo ressaltou a importância do desenvolvimento de vacinas contra a Aids no Brasil e em outros países em desenvolvimento

Osamov abordou os principais obstáculos para o desenvolvimento de uma vacina eficiente contra a Aids, como a grande mutabilidade do HIV e a falta de um modelo animal para as pesquisas   

Osamov também discutiu os resultados apresentados pelos mais recentes testes com candidatos a vacina contra a Aids. "Recentemente passaram por testes em grande escala produtos desenvolvidos por países como Estados Unidos, Canadá e Tailândia", afirmou. "Apesar de nenhum deles ter obtido uma resposta imunológica eficiente para o controle do desenvolvimento da doença, obtivemos informações que serão aplicadas na criação  e teste de outros candidatos."

O coordenador do programa de vacinas em Aids da UNAIDS/OMS ressaltou que tanto os testes em andamento com diversos outros produtos quanto as diversas linhas de pesquisa básica sobre possíveis alvos para vacinas podem agregar mais conhecimento sobre a doença. "Nesse momento, é importante estabelecer um equilíbrio entre pesquisa e desenvolvimento", acredita. "Devemos estudar os possíveis candidatos à vacina contra a Aids e, ao mesmo tempo, continuar procurando por novos produtos e novas formas de impedir o desenvolvimento da doença no homem."

O especialista acredita que, para o desenvolvimento das pesquisas na área outro passo importante para a obtenção de uma vacina é o desenvolvimento de um modelo animal adequado para testes. "Além do homem, o único outro mamífero que o HIV afeta é o chimpanzé, que também não pode ser utilizado como modelo por apresentar reações diferentes dos casos humanos", explicou.


Gutemberg Brito

 Números da OMS mostram que cerca de 7.400 pessoas são infectadas por dia pleo HIV

O pesquisador russo aposta no desenvolvimento de parcerias entre todos os setores sociais e laboratórios de todo o mundo para a criação de uma vacina contra a doença

O pesquisador afirmou, também, acreditar que o trabalho em parceria é fundamental para a obtenção de um produto capaz de controlar a disseminação da Aids. "Esse é um problema mundial, por isso os governos, os institutos de pesquisa, a mídia e a população de todas as partes do planeta devem trabalhar em conjunto, garantindo o avanço das pesquisas e o acesso das populações mais pobres, que mais sofrem com a doença, aos possíveis produtos que venham a ser desenvolvidos", explicou Osamov. Ele ressaltou a importância das pesquisas realizadas no Brasil e em todos os países em desenvolvimento. "A resposta imunológica dos indivíduos ao vírus não é a mesma em todas as partes do mundo e está relacionada à herança genética de cada população, por isso é importante desenvolver estudos nessas regiões", explicou. "Além disso, pode permitir um acesso mais fácil à possível vacina para populações da África, América Latina e Ásia, as mais atingidas pela doença."

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), existem hoje 33 milhões de pessoas vivendo com Aids no mundo. A cada ano são registradas cerca de dois milhões de mortes relacionadas à doença e por volta de 2,7 milhões de novas infecções por ano, quase 7.400 por dia. A área mais atingida pela doença é a África, com mais de 20 milhões de casos.

09/09/08
Marcelo Garcia

Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz).

Versão para impressão:
Envie esta matéria:

Instituto Oswaldo Cruz /IOC /FIOCRUZ - Av. Brasil, 4365 - Tel: (21) 2598-4220 | INTRANET IOC| EXPEDIENTE
Manguinhos - Rio de Janeiro - RJ - Brasil CEP: 21040-360

Logos