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A formação de talentos, artigo de Eloi S. Garcia*

Os principais temas da agenda educacional relacionam com as Universidades e os Institutos de Pesquisa a formação de pesquisadores para enfrentar os desafios científicos, tecnológicos, econômicos e de competitividade que aparecem com a globalização nesta era pós-industrial.

Essas instituições devem ensinar aos futuros pesquisadores a enfrentar a vida, desde o conhecimento da história compartilhada, o exercício da crítica, a reflexão, a arte de apropriar a si mesmo para levar adiante a vida e a capacidade da produção científica e de inovação tanta esperada pelo país.

Assim, formar jovens talentos científicos que sejam capazes de substituir os cientistas que temos hoje e preencher a necessidade de especialistas imposta pelo crescimento do país é uma tarefa importante dessas instituições.

Devemos sempre lembrar que as Universidades e Institutos Públicos não pertencem somente aos docentes, pesquisadores, funcionários e alunos. Eles pertencem à sociedade que os financia e os sustenta porque necessita de suas atividades para o seu desenvolvimento.

Precisamos de Universidades e Institutos menos passivos e mais criativos, mais práticos do que teóricos, onde os professores e orientadores sejam mais companheiros e induzam os estudantes a perguntar, a desenvolver uma idéia original e potenciem os alunos a aprender que a ciência e a tecnologia ensinam a dar resposta a muitos desafios da sociedade contemporânea, permitindo interpretar o passado, viver o presente e construir o futuro.

É urgente que a formação na pós-graduação siga esse caminho. Ou seja, aprender com o passado e incentivar o presente proporcionando um futuro mais competente e competitivo, que vai precisar da energia e experiência, e essas da dedicação e generosidade dos orientadores e estudantes.

A cada 15 anos o conhecimento científico duplica e isso requer estudantes bem formados e informados, ágeis e participativos e não de professores do passado dando aulas para alunos do futuro e para o futuro.

Devemos sempre ensinar aos pós-graduandos que em algum lugar há algo belíssimo para ser encontrado, ser descoberto. A ciência não deve ser um luxo de poucos e sim uma verdadeira necessidade de muitos. Sem a participação ativa dos professores esse mundo será invisível. Já dizia Einstein que o exemplo não era a melhor forma de orientar, era a única.

A interatividade, integração e a possibilidade de criação dividida são as principais inovações conceituais e formais que o orientador deve ter com seus orientados. É como pintar um quadro ou tocar piano a quatro mãos. O bom orientador deve ter a capacidade de se envolver e conectar ao mesmo tempo “os corações e as mentes” dos estudantes.

Com essa expressão fica claro que em ciência é tão importante se aproximar e conectar emocionalmente com os orientados, como conseguir que esses estudantes compartilhem com o pessoal do laboratório suas idéias, dúvidas e experimentos que afetam o desenvolvimento de seus trabalhos.

Isto outorga um papel inédito e único ao cientista: o de formador de talentos. Porém, não resta dúvida de que essa maneira de ser é reservada aos cientistas mais comprometidos com o sonho e a utopia democrática da ciência e o desenvolvimento, e aos representantes de um novo modelo de criação e formação científica.

A relação do orientador e orientado deve abordar situações buscando uma harmonia finíssima entre ciência, sentimentos, psicologia, experiência e até arte.

A formação de um novo talento científico é produto do encontro entre a ciência e o humanismo, a pesquisa e a mente criativa. Elas constituem o cerne de nosso conhecimento e nossas práticas sociais e de convivências humanas. E se não for assim podemos estar formando doutores para a decepção.


* Eloi S. Garcia é pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz, ex-presidente da Fiocruz e membro da Academia Brasileira de Ciência.

Artigo originalmente publicado em 08 de setembro no Jornal da Ciência

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