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Novo método rápido e barato para o diagnóstico da esquistossomose

 Passo a passo do procedimento

Criatividade brasileira a serviço da saúde pública: pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) desenvolveram um método simples, rápido, barato e eficaz para realizar o diagnóstico da esquistossomose, parasitose endêmica em doze Estados e responsável por 106 mil casos no país em 2006. O projeto é fruto de uma parceria do IOC, no Rio de Janeiro, com o Instituto René Rachou (Fiocruz-MG). Na primeira avaliação experimental, o procedimento que tem patente registrada como modelo de utilidade mostrou eficácia e sensibilidade superiores à técnica atualmente recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), conhecida como método de Kato-Katz.

Gutemberg Brito/IOC

 
 Arnon Jurberg

 Atraídos pela luz e concentrados no pequeno balão coletor, os miracídios podem ser facilmente identificados

Bastante simples, o aparato é composto por uma caixa de madeira, um frasco de vidro com um pequeno balão coletor  e um diminuto funil adaptado. O dispositivo é uma modificação do chamado método de eclosão miracidiana, procedimento amplamente utilizado em países como a China para o diagnóstico da esquistossomose, que tem por princípio a atração de larvas do parasito (chamadas miracídios) por uma fonte luminosa. A vantagem do novo método é concentrar as larvas em um pequeno volume de água limpa, aumentando a sensibilidade e a eficácia.

A princípio, os dois procedimentos são semelhantes. Para realizar o método de eclosão miracidiana, basta colocar a amostra de fezes misturada com água de forma homegênea no interior do frasco de vidro, preenchê-lo com água limpa e posicioná-lo próximo a uma fonte de luz. Ao entrar em contato com a água limpa, as larvas dos ovos eliminados nas fezes eclodem e são atraídas pela luminosidade, numa dinâmica similar ao que acontece na natureza. Após a eclosão, as larvas tendem a permanecer na superfície do recipiente e podem então ser facilmente identificadas.

Arnon Jurberg/IOC

 
 miracídio

 Produzida por microscopia a laser confocal, a imagem exibe larvas do S. mansoni (miracídio)

A técnica desenvolvida pelo IOC inova ao adaptar um pequeno balão coletor e um diminuto funil de contenção ao frasco de vidro e ao incluir a caixa de madeira ao procedimento: depois de ser preenchido com a amostra de fezes homogeneizada em água, o recipiente é colocado na caixa de madeira, deixando à mostra apenas o pequeno balão, que é iluminado pela lâmpada ou pela luz do sol enquanto o restante da amostra permanece no escuro. Esta dinâmica faz com que as larvas atraídas pela luz concentrem-se na região iluminada, preenchida com água limpa e livre de impurezas encontradas no recipiente maior. A concentração das larvas em água limpa no pequeno balão coletor facilita a identificação do parasito, que pode ser  rapidamente reconhecido por microscopia óptica.

“O diagnóstico da esquistossomose pode ser realizado por diversas formas. O que fizemos foi aprimorar o método de eclosão miracidiana. A concentração de larvas no recipiente à parte permite que os miracídios sejam identificados mais rapidamente, em apenas dez minutos, através de uma lupa comum ou com um microscópio simples. A maior limitação do método inovador é a necessidade de amostras de fezes frescas, uma vez que as larvas precisam passar pelo processo de eclosão durante o procedimento, para que possam nadar até o recipiente menor”, descreve o biólogo Arnon Dias Jurberg, que desenvolve o projeto, idealizado ainda na iniciação científica, no Laboratório de Patologia do IOC durante o mestrado em Biologia Celular e Molecular do Instituto.

 Gutemberg Brito/IOC

 
 Arnon Jurberg

 O biólogo Arnon Jurberg observa em microscópio o material coletado no experimento 

Os resultados obtidos em laboratório indicam maior sensibilidade da nova metodologia em relação ao procedimento recomendado pela OMS, o método de Kato-Katz, que consiste na identificação de ovos do parasito através de minuciosa análise em microscópio de luz por profissional especializado. “A análise de lâminas pelo método de Kato-Katz é trabalhosa e demorada. Um profissional bem treinado leva cerca de duas horas para examinar aproximadamente 12 lâminas, enquanto o novo dispositivo permite que um volume de amostras correspondente a 36 lâminas de Kato-Katz seja analisado em apenas dez minutos, através de lupa comum ou de microscópio de luz simples”, Arnon compara.

Além disso, o novo aparato pode ser reutilizado. A eficiência foi confirmada também pela análise minuciosa, por microscópio, dos sedimentos encontrados no fundo do recipiente maior, após a identificação das larvas: nenhum miracídio e somente um ovo, morto, foi encontrado, confirmando o forte comportamento de atração dos miracídios à fonte de luz.

O dispositivo, produzido pelo Laboratório de Patologia do IOC em parceria com a Diretoria de Administração do Campus da Fiocruz (Dirac), aproveita o próprio ciclo de vida do Schistosoma mansoni, agente etiológico da esquistossomose no Brasil.

“Quando os ovos contidos nas fezes infectadas depositadas em rios e lagos entram em contato com a água, minúsculas larvas chamadas miracídios eclodem. Essas larvas nadam em direção à luz e podem penetrar em caramujos do gênero Biomphalaria, também atraídos pela luminosidade. Após o tempo de incubação no caramujo, o miracídio dá origem  a outras larvas, chamadas cercárias, que têm a capacidade de infectar o homem”, Arnon esclarece. No dispositivo desenvolvido pelo IOC, é a luz de uma simples lâmpada – ou até mesmo do sol, em dias quentes – que induz o deslocamento dos miracídios para o recipiente menor, adaptado ao frasco de vidro.

“A expectativa é que o novo método auxilie no diagnóstico da esquistossomose, sobretudo em casos de baixa carga parasitária ou em avaliações realizadas após o tratamento. Nestes casos, o número de parasitos contidos na amostra de fezes tende a diminuir consideravelmente e o diagnóstico torna-se mais difícil. Ao concentrar os miracídios num recipiente à parte, o novo aparato facilita a identificação do parasito e otimiza o processo de diagnóstico”, Arnon comemora. “Os resultados finais dependem ainda de uma avaliação em campo, já em andamento”, pondera. O trabalho, orientado pelos pesquisadores Henrique Lenzi, do Laboratório de Patologia do IOC, e Paulo Marcos Coelho, do Laboratório de Esquistossomose da Fiocruz-MG, foi publicado na revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz.

Sobre a esquistossomose

A esquistossomose é causada por vermes do gênero Schistosoma e provoca quadros clínicos diferentes, de acordo com a espécie de parasito envolvida – das cinco que infectam o homem, apenas uma é encontrada nas Américas, conhecida como Schistosoma mansoni. Endêmica no Maranhão, Alagoas, Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba, Sergipe, Espírito Santo, Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Santa Catarina, a doença registrou mais de 106 mil casos no país em 2006, segundo dados do Ministério da Saúde. O ciclo da esquistossomose mansônica, que também é registrada em países da África, da Europa Mediterrânea e em ilhas do Caribe, tem início quando um homem infectado elimina ovos do parasito junto com suas fezes, que eclodem ao entrar em contato com a água de rios e lagos, liberando larvas – os miracídios – que infectam caramujos presentes no ambiente. Nos caramujos, os miracídios transformam-se em cercárias – um outro tipo de larva também liberado na água e capaz de infectar o homem através da pele. No organismo humano, o parasito atinge a corrente sangüínea e percorre diversos órgãos, como pulmões e coração, até se alojar em vasos intestinais e hepáticos, onde amadurece e se torna um verme adulto. Não existe vacina para a esquistossomose e o tratamento consiste na administração de praziquantel. O controle deve ser realizado sobretudo a partir de saneamento básico e medidas adicionais como educação em saúde e controle dos caramujos também são recomendadas. A eliminação de focos de transmissão do parasito ainda é um desafio imposto pelas condições socioeconômicas precárias do país e pela presença de outros vertebrados, como roedores, que também podem ser reservatórios da doença.

Conheça o procedimento


Bel Levy

23/09/08

Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz).


 

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