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Parceria Angola-IOC capacita primeiras estudantes africanas

A parceria entre o Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e o governo de Angola através do Ministério da Saúde e da Fundação Eduardo Santos (FESA) iniciada em 2006 para a formação de profissionais de saúde rende os primeiros resultados. Quatro estudantes angolanas acabam de concluir o mestrado no IOC em temas de grande relevância para o continente africano: Aids, malária e hepatites. Os estudos, que envolveram trabalho de campo desenvolvido em Angola, são importantes para orientar os esforços em saúde pública na África e para a obtenção de mais detalhes sobre as especificidades das variantes africanas das doenças estudadas. A parceria abre a possibilidade, também, de estudos conjuntos entre o IOC e o governo do país africano. 
 

 Gutemberg Brito/IOC

 
 angolanas concluem mestrado no IOC

 A pesquisadora Maria de Fátima Ferreira da Cruz orienta as estudantes angolanas Guilhermina de Carvalho e Florbela Lutucuta


“Nosso objetivo ao propor essa parceria era promover a pesquisa científica em Angola, formando profissionais, mas também gerando conhecimento sobre a saúde pública da nação africana, notadamente dos países da África Austral”, conta Maria de Fátima Ferreira da Cruz, pesquisadora do Laboratório de Pesquisas em Malária do IOC e orientadora de duas estudantes angolanas. “Por isso, usamos amostras coletadas a partir de trabalho de campo em Angola e exigimos que os candidatos sejam todos ligados ao governo do país, para que a sua capacitação se reverta em melhorias para o sistema de saúde pública local.”
 
Em suas teses, as estudantes que participaram do projeto de colaboração abordaram problemas de saúde muito presentes na África. A quimiorresistência do Plasmodium falciparum aos medicamentos antimaláricos e a presença de polimorfismo gênico de uma molécula com possibilidades vacinais em amostras locais do P. falciparum, foram temas das pesquisas desenvolvidas sob a orientação da pesquisadora Maria de Fátima Ferreira da Cruz, no Laboratório de Pesquisas em Malária do IOC, pelas estudantes Guilhermina de Carvalho e Florbela Lutucuta Kosi, respectivamente.

Para Guilhermina, estudos como estes são o primeiro passo para orientar políticas de saúde pública. “Utilizamos amostras da população angolana e estudamos problemas muito graves do nosso país”, explica. “Os resultados de pesquisas como as nossas podem direcionar linhas de ação para o governo ou indicar a necessidade de mudanças de estratégia no controle e na prevenção de certas doenças.”

 Gutemberg Brito/IOC

 
 Florbela Lutucuta Kosi

 A investigação de uma molécula com possibilidades vacinais para malária foi alvo da tese de Florbela Lutucuta Kosi


 
Aids e hepatite também foram objeto de pesquisa. Fátima Valente investigou, no Laboratório de Virologia Molecular do IOC, a epidemiologia da hepatite B em profissionais de saúde e pacientes de um hospital angolano, sob a orientação da pesquisadora Selma de Andrade Gomes, chefe do Laboratório. Já a estudante Rosa de Fátima, sob a orientação da pesquisadora Ana Carolina Paulo Vicente, chefe do Laboratório de Genética Molecular e Microorganismos do IOC, estudou casos de co-infecção de HIV e HTLV, este último um vírus que pode causar linfomas (tumores) em células de defesa do organismo e é responsável pela mielopatia, doença que afeta a medula espinhal.

Professora da Universidade Pública Agostinho Neto, em Angola, Florbela acredita que uma das oportunidades mais interessantes possibilitadas pelo curso é a de retransmitir os conhecimentos aprendidos no Brasil. “É muito estimulante saber que além de aprimorar nossa capacidade de pesquisa, poderemos atuar como multiplicadoras desse conhecimento, formando profissionais mais capacitados em Angola”, comemora. “Isso é algo que nunca foi feito e reproduzir o que aprendemos é fundamental. O conhecimento não tem validade se ficar só conosco.”
 
Para Maria de Fátima, além da importância humana da iniciativa, as pesquisas também despertam interesses do ponto de vista científico. “Uma vez que há muito pouco conhecimento sobre as variantes angolanas dos microorganismos investigados pelas estudantes, apesar de constituírem grandes problemas de saúde pública, todos os estudos acrescentam novas e interessantes informações, como já foi observado nas teses desenvolvidas pelas alunas no IOC”, avalia.

Segundo a especialista as contribuições científicas ganham ainda mais importância por serem desenvolvidas por pesquisadores africanos. “Em geral, os trabalhos produzidos na África são assinados por pesquisadores de outras partes do mundo e nosso objetivo é que isso mude”, conta a pesquisadora. “O conhecimento é gerado por angolanos para Angola, o que representa um ganho incrível de auto-estima para os pesquisadores do país, como um todo.”
 
Felizes por terem concluído com sucesso o curso de mestrado em Biologia Parasitária do IOC, as quatro alunas angolanas relembram as dificuldades por que passaram. “Além da dificuldade natural do curso, as saudades da família também foram muito grandes”, conta Florbela.
 

 Gutemberg Brito/IOC

 
 Guilhermina de Carvalho

 Guilhermina de Carvalho estudou a quimiorresistência do Plasmodium falciparum aos medicamentos antimaláricos


Maria de Fátima destaca ainda um outro obstáculo que as angolanas também tiveram que vencer: a falta de vivência em laboratório. “As estudantes que estiveram sob minha orientação, por exemplo, chegaram sem saber realizar alguns dos procedimentos mais básicos por não terem acesso a eles durante suas graduações”, lembra. “Então foi necessária uma dedicação ainda maior, pois realizaram praticamente uma iniciação científica e um mestrado no período de dois anos e meio e, por isso, foram duplamente vitoriosas.”
 
Com a conclusão dos estudos do primeiro grupo de alunos, Maria de Fátima já pensa nas novas turmas do curso. “Seria ideal capacitarmos pessoal em todos os níveis, disponibilizando vagas para outros níveis além do mestrado, desde o curso técnico, de nível médio, até doutorado”, defende.
 
As quatro alunas receberam bolsas da Fundação Eduardo dos Santos (FESA), ligada ao governo angolano. A FESA custeou, ainda, as passagens da equipe e o transporte do material para a coleta de amostras em Angola, realizado durante o curso. 

Marcelo Garcia

07/10/08

Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz).

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