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Estudo investiga co-infecção por Aids e hanseníase

Pouco conhecida, a epidemiologia da co-infecção pelo HIV e a Mycobacterium leprae, agente etiológico da hanseníase, é alvo de estudo pioneiro desenvolvido pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) em parceria com o Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (Ipec/Fiocruz), a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e a Universidade de Medicina e Odontologia de New Jersey, nos Estados Unidos. Os resultados indicam a exacerbação dos sintomas da hanseníase em pacientes infectados também pelo HIV, sobretudo entre os indivíduos em terapia anti-retroviral – embora o desenvolvimento da Aids não tenha sido influenciado pela manifestação da hanseníase.

 TDR/OMS

 
 <EM>M. leprae</EM>

 A infecção pelo HIV pode exacerbar os sintomas da hanseníase, doença provocada pela M leprae (bastonetes vermelhos)

 

Para entender de que forma a sobreposição das infecções pode influenciar o desenvolvimento das doenças, incluindo o efeito da terapia anti-retroviral utilizada no tratamento da Aids sobre o desenvolvimento da hanseníase, os pesquisadores acompanharam, durante 33 meses, 1026 pacientes atendidos pelo Ambulatório Souza Araújo do IOC, referência nacional do Ministério da Saúde para o atendimento de pacientes com hanseníase. Entre os indivíduos estudados, 59 estavam co-infectados pelo HIV.

“Verificamos que em pacientes co-infectados o aparecimento de sintomas da hanseníase acontecia justamente no início da terapia anti-retroviral. É um processo intrigante, uma vez que o fortalecimento do sistema imune através da medicação anti-Aids deveria significar a melhora do estado de saúde do paciente”, descreve a coordenadora do estudo, a médica Euzenir Sarno, chefe do Laboratório de Hanseníase do IOC. Normalmente, a manifestação clínica da hanseníase é resultado de uma resposta imune antiinflamatória específica para a doença – mas em pacientes co-infectados pelo vírus da Aids o aparecimento dos sintomas dermatológicos e neurológicos que a caracterizam parece ser desencadeado por uma resposta imune inespecífica, modulada pela terapia anti-retroviral.

“Essa relação faz sentido porque a manifestação da hanseníase depende da ativação de resposta imune e somente depois do tratamento da Aids, que provoca a redução de carga viral e o aumento de células de defesa CD4, o organismo antes imunodeprimido é capaz de reconhecer a M. leprae e modular a resposta à infecção. O curioso é que esta resposta induzida pela terapia anti-retroviral não é a resposta específica que caracteriza a reação inflamatória do sistema imune à hanseníase”, a médica pondera. Inclusive, muitos pacientes apresentavam quadros assintomáticos da hanseníase e só descobriram que estavam infectados pela M. leprae quando deram início ao tratamento anti-retroviral, e os sintomas da hanseníase apareceram.

 Gutemberg Brito

 
 Ambulatório Souza Araújo

O estudo foi realizado no Ambulatório Souza Araújo do IOC, referência nacional do Ministério da Saúde para atendimento de pacientes portadores da hanseníase

 

Os pesquisadores também consideraram outros aspectos: o tipo de hanseníase (paucibacilar, com o aparecimento de até cinco lesões cutâneas, ou multibacilar, com mais de cinco lesões) e a forma dermatológica manifestada pelo paciente. A avaliação destes aspectos confirma o perfil paradoxal da co-infecção. “O comprometimento do sistema imunológico em função da infecção pelo HIV sugere a manifestação de uma forma imunodeprimida da hanseníase. Mas neste estudo verificamos a maior prevalência da hanseníase tuberculóide paucibacilar, característica de uma resposta imune altamente ativa”, Euzenir descreve.

Para Euzenir, a co-infecção representa um desafio maior à ciência do que à saúde pública. “A hanseníase é uma doença controlada no Brasil e apresenta baixo risco de óbito. Do ponto de vista científico, porém, a dupla infecção constitui um desafio pelo perfil paradoxal que caracteriza a resposta imunológica dos pacientes”, Euzenir considera. A médica ressalta que, apesar da baixa prevalência, a co-infecção merece atenção dos médicos, sobretudo em regiões onde a hanseníase ainda é endêmica, como o Brasil, a Índia e o continente africano. O Ministério da Saúde estima que no Brasil existam 1200 pacientes co-infectados pelos patógenos, concentrados nas regiões Norte e Centro-Oeste, que apresentam as maiores prevalências do país para hanseníase.

 

Bel Levy

01/12/08

Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz).

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