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Composto natural: bons resultados in vitro contra a dengue

A falta de medicamentos específicos para a dengue é um dos principais problemas relacionados à doença, que atualmente tem o tratamento restrito a amenizar os sintomas da infecção. Com o objetivo de buscar alternativas terapêuticas, um estudo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) que investiga o potencial de um composto natural no combate ao vírus da dengue no organismo humano apresentou resultados antivirais e imuno-moduladores animadores. Os cientistas do IOC também usaram pela primeira vez no Brasil um novo modelo in vitro para avaliar compostos com potencial farmacêutico que possam ser usados no controle da infecção. O modelo poderá ser aplicado para o estudo de outras substâncias.

 Gutemberg Brito

 
 Sônia Reis e Mariana Gandini

Sônia Reis (ao fundo) e Mariana Gandini utilizaram modelo inédito no Brasil para avaliar compostos com potencial farmacêutico para o controle da dengue. A ausência de medicamentos específicos é um dos principais desafios colocados pela doença

 

O método aplicado, que utiliza culturas de células de monócitos humanos para avaliação de drogas potenciais para dengue, já é estudado em outras partes do mundo. Porém, as pesquisadoras Claire Kubelka e Sônia Reis, do Laboratório de Imunologia Viral do IOC, pela primeira vez analisaram o perfil múltiplo de citocinas, proteínas importantes na resposta inflamatória do organismo e no agravamento da doença, produzidas durante a infecção in vitro de monócitos humanos pelo vírus da dengue do tipo 2.

Através dessa abordagem, as pesquisadoras analisaram a capacidade antiviral e imunomoduladora da planta medicinal Uncaria tomentosa. “Nosso objetivo é estabelecer um modelo de infecção in vitro adequado para testes de seleção de extratos ou frações de plantas medicinais com efeito imunomodulador para o vírus da dengue”, conta Kubelka. A planta, popularmente conhecida como unha de gato, é aplicada com finalidades medicinais na Amazônia e, segundo a especialista, possui efeitos imunomoduladores e antiinflamatórios comprovados cientificamente. Foram testados os efeitos de três frações extraídas da casca do caule da Uncaria, uma mais bruta e duas mais concentradas, uma delas rica em alcalóides. “Os alcalóides são compostos químicos naturais, de origem vegetal, a maioria com atividade farmacológica”, esclarece a especialista.

 Gutemberg Brito

 
 Sônia Reis

O estudo teve duração de quatro anos e fez parte da tese de doutorado da pesquisadora Sônia Reis

Segundo as pesquisadoras, os resultados mostraram a inibição da produção dos marcadores, em especial de TNF-alpha, principalmente na fração rica em alcalóides.  “A concentração do composto parece ligada à atividade antiviral e imunomoduladora”, avalia Kubelka. “Assim como a presença dos alcalóides também está relacionada a esses efeitos.” A especialista também registrou uma diminuição de até 19% da replicação do antígeno viral dentro das células tratadas com a planta, mas faz questão de relativizar esses resultados. “A dengue é uma doença imunológica, onde o mais importante não é o alastramento do vírus, mas o excesso de reação inflamatória no paciente”, esclarece. “Por isso, o efeito antiviral não é tão importante para o seu tratamento.” O próximo passo da pesquisa, segundo a especialista, é tentar explicar esses efeitos. “Precisamos entender, por exemplo, se um dos alcalóides utilizados foi o responsável por isso ou se foi uma ação sinérgica entre eles”, exemplifica a pesquisadora.

 Gutemberg Brito

 
 Mariana Gandini

A Uncaria tomentosa, conhecida popularmente como unha-de-gato, serviu de base para os priemrios compostos testados pelo novo método, que utiliza culturas de monócitos humanas

As especialistas acreditam que entender exatamente como o vírus atua no organismo é o passo fundamental para o tratamento da doença. “Pesquisas como a nossa ajudam a entender melhor todas as variáveis que estão envolvidas nesse processo e a descobrir parâmetros de gravidade da doença, porque determinados fatores são importantes para o aumento da permeabilidade vascular, por exemplo, e quais são eles”, analisa Kubelka. Por isso, ela ressalta que os resultados obtidos são apenas preliminares. “Hoje, não há uma vacina eficaz e o tratamento se resume à hidratação oral e venosa, então precisamos buscar modelos que possam identificar novas drogas para o tratamento da doença”, acredita a pesquisadora. “Porém, esta ainda é uma pesquisa básica, e todas as diversas substâncias que vêm sendo testadas ainda precisarão passar por muitos outros testes antes de chegarem à população.”

Sobre o Método

O método aplicado pelas pesquisadoras Claire Kubelka e Sônia Reis, do Laboratório de Imunologia Viral do IOC,  utilizou monócitos humanos, células de defesa presentes no sangue, obtidos de doadores saudáveis, em colaboração com o setor de hemoterapia do Hospital Clementino Fraga Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), infectadas pelo vírus da dengue tipo 2. “Quase todos os trabalhos que buscam um fitofármaco contra a dengue utilizam outros tipos celulares, geralmente os de linhagem celular”, afirma Kubelka. “Mas confirmamos a importância de se utilizar monócitos em estudos in vitro porque, recentemente, demonstramos a presença do antígeno viral nessas células, em pacientes na fase aguda da doença”.

O método, segundo as pesquisadoras, já vem sendo utilizado por grupos de pesquisa estrangeiros que realizam infecção in vitro com o vírus dengue. No entanto, pela primeira vez analisaram a produção de citocinas, proteínas ligadas à gravidade da doença, com base em um modelo de células sanguíneas humanas infectadas. “Nosso trabalho é o primeiro que descreve na literatura o perfil múltiplo de citocinas produzidas durante a infecção in vitro de monócitos pelo tipo 2 do vírus da dengue”, esclarece Kubelka.

 Gutemberg Brito

 
 Mariana Gandini

A pesquisa desenvolvida no Laboratório de Imunologia Viral do IOC é o primeiro passo para o desenvolvimento de fármaco de origem vegetal para o tratamento da dengue

As citocinas são proteínas em geral ligadas à resposta inflamatória do organismo, à replicação do vírus e à ocorrência de casos graves da doença. “As células do sistema imunológico de algumas pessoas produzem uma quantidade muito grande de citocinas, responsáveis pela intensa reação imunopatológica, que leva a quadros graves e até à morte”, explica Reis. Segundo ela, entre as citocinas estudadas estavam o TNF-alpha, que tem importante papel nas hemorragias e na desidratação; a interleucina-6 e a interleucina-10, que têm ação inflamatória e inibe a resposta imunológica contra o vírus. “Apesar desse método já ser utilizado em algumas pesqusias no exterior”, ressalta Reis, “nosso trabalho é o primeiro que descreve o perfil múltiplo de citocinas produzidas durante a infecção in vitro de monócitos humanos brasileiros pelo tipo 2 do vírus da dengue.”

A pesquisadora afirma que uma das principais vantagens geradas pelo método utilizado é sua capacidade de representar a variabilidade interpessoal. “Uma vez que cada pessoa apresenta uma resposta imunológica própria, diferenciada, os monócitos cultivados e infectados in vitro também reproduzem diversos padrões de resposta frente a infecções de um modo geral”, explica Reis.  “Esse método consegue representar, in vitro, a grande variabilidade das respostas imunológicas observadas durante as epidemias de dengue.”


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Marcelo Garcia

02/12/08

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