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Pesquisa de 1908 já descrevia características do A. aegypti

Verão, Rio de Janeiro. Um vírus transmitido pelo mosquito Aedes aegypti provoca centenas de casos de uma grave doença e deixa a população carioca em alerta. As autoridades pedem a colaboração da população para a eliminação do vetor. Apesar das semelhanças com cenários recentes, o ano é 1908 e o vírus em questão, o da febre amarela. Foi nesse contexto que Antonio Gonçalves Peryassú, pesquisador do então Instituto Soroterápico Federal, que ganharia o nome Instituto Oswaldo Cruz (IOC) ainda em 1908, fez descobertas sobre o ciclo de vida, os hábitos e a biologia do A. aegypti, que foram fundamentais para a erradicação do mosquito em território nacional nas décadas seguintes e que ainda hoje norteiam as pesquisas sobre o controle do vetor. A importância dos estudos realizados por Peryassú foi resgatada pelo entomologista Ricardo Lourenço, pesquisador do Laboratório de Transmissores de Hematozoários do IOC e editor da revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, no editorial da edição de dezembro do periódico (leia a íntegra do artigo, em inglês). 

Reprodução de imagem do livro Os Anophelíneos do Brasil, de Antônio Peryassú  

 

 Antônio Gonçalves Peryassú, no centro, de paletó 

Diversas características do Aedes aegypti observadas pelo pesquisador (no centro, vestido de preto) continuam sendo estudadas até os dias de hoje.

Os estudos de Peryassú o colocam como um dos pioneiros no estudo da biologia e do comportamento do A. aegypti na América do Sul. Nas primeiras décadas do século XX, o Brasil passava por epidemias de febre amarela urbana. Desde 1903, Oswaldo Cruz, então diretor do Instituto Soroterápico Federal, já incentivava campanhas de controle do mosquito. Mas foram os estudos de Peryassú, seu companheiro no Instituto, que abriram caminho para conhecer melhor o vetor da doença. Numa monografia com mais de 400 páginas, intitulada Os Culicídeos do Brasil, o entomologista descreveu os hábitos do A. aegypti e de uma série de outros mosquitos da mesma família, apresentando aspectos nunca antes observados de sua biologia. “Antes desse trabalho, tudo que se conhecia sobre o comportamento e a biologia do A. aegypti fora descrito em Cuba, pela Comissão sobre Febre Amarela do exército norte-americano”, explica Lourenço. “Quase nada se sabia do comportamento e da biologia do A. aegypti nas condições climáticas e ambientais do Rio de Janeiro.”

Durante dois anos, Peryassú realizou uma série de experimentos com o A. aegypti. Seu estudo trouxe preciosas informações sobre aspectos como a resistência à dessecação do ovo do mosquito, que pode ficar até um ano sem contato com a água. Também fez observações quanto à produtividade dos criadouros, questão ainda debatida, afirmando que, em geral, grandes reservatórios de água são os focos mais produtivos do vetor. Pesquisas atuais ainda tentam explicar a impermeabilidade dos ovosestabelecer os focos preferenciais do mosquito.

Entre suas mais interessantes descobertas estão, também, a relação do mosquito com a temperatura e a densidade populacional, temas ainda estudados pelos entomologistas.
Ao realizar o primeiro levantamento detalhado da infestação do mosquito no Rio de Janeiro, o pesquisador associou a maior presença do A. aegypti ao aumento da densidade populacional de certas áreas da cidade e também mostrou a similaridade entre o mapa da concentração da população do inseto com o da ocorrência de casos de febre amarela. Suas observações mostraram, ainda, que a queda da temperatura ambiente para menos de 20ºC interfere no desenvolvimento e na reprodução do mosquito, que se reduzem drasticamente, levando a uma redução dos casos das doenças transmitidas pelos mosquito.

Reprodução do mapa integrante da monografia Os Culicídeos do Brasil, de Antonio Peryassú 

 

 Mapa elaborado por Peryassú

Peryassú foi o primeiro a realizar um levantamento detalhado e completo da infestação do mosquito Aedes aegypti na cidade do Rio de Janeiro


As descobertas de Peryassú deram ainda mais força à campanha movida por Oswaldo Cruz para eliminação do mosquito, que foi controlado na década de 1920 no Rio de Janeiro e considerado erradicado do Brasil pouco mais de trinta anos depois. A maioria dos pontos levantados em suas pesquisas continua na agenda científica dos especialistas que hoje buscam desenvolver estratégias de controle do mosquito transmissor da dengue. “Como Oswaldo Cruz e Peryassú sugeriram 100 anos atrás”, conclui Ricardo, “o financiamento de pesquisas científicas e a interação entre as autoridades envolvidas no controle do mosquito em todos os níveis e os pesquisadores é fundamental para a luta contra o mosquito durante a próxima estação de grande incidência de dengue.”

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 Marcelo Garcia

09/01/09

Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz).

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