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Hanseníase: datas reforçam luta contra a doença

Na última semana de janeiro, serão comemorados o Dia do Hanseniano (24), o Dia Mundial de Combate à Hanseníase (26) e o Dia Estadual de Combate à Hanseníase (27). As datas são oportunidade para sensibilizar a sociedade sobre a importância do diagnóstico e tratamento da hanseníase e reforçar a luta contra o preconceito que envolve a doença, que é 100% curável com um tratamento simples, disponível gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS).

Centro de Referência Nacional para o Ministério da Saúde na área, o Ambulatório Souza Araújo de atendimento à hanseníase do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) é responsável por aproximadamente 10% dos diagnósticos de casos de hanseníase realizados no Estado e no município do Rio de Janeiro. O ambulatório, que atende cerca de 450 pacientes mensalmente, foi um dos centros pioneiros na adoção da poliquimioterapia no Brasil, ainda no final da década de 1980, quando o tratamento passou a ser indicado como protocolo pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Entre 1986 e 2007, foram diagnosticados mais de dois mil novos casos.

Rodrigo Méxas  

 

O Ambulatório Souza Araújo foi  um dos centros pioneiros na adoção da poliquimioterapia no Brasil, tratamento que passou a ser indicado como protocolo pela Organização Mundial de Saúde (OMS)

“Os pacientes geralmente são encaminhados pelo serviço público de saúde, consultórios particulares e outras unidades de saúde, mas nós também atendemos a demanda espontânea, ou seja, pessoas que chegam até aqui para serem atendidas”, explica o médico José Augusto Nery, chefe do Ambulatório, que realiza um atendimento de maior complexidade, incluindo biópsias, pequenas cirurgias de fisioterapia e de neurologia, e assistência social.

Um importante diferencial do trabalho é a ênfase na prevenção da doença e também no combate ao preconceito que cerca a hanseníase. Os pacientes são conscientizados de que podem levar uma vida normal, já que a doença deixa de ser transmitida com o início do tratamento. “Em função deste acompanhamento cuidadoso, abrangente e acessível, nossa taxa de abandono do tratamento é de menos de 2%”, observa o médico.

Outro dado importante é a inclusão dos amigos próximos e familiares dos pacientes, os chamados comunicantes: pela convivência, eles são suscetíveis à infecção, que precisa de contatos estreitos e continuados para ser transmitida. Desde 1987, mais de 6 mil comunicantes foram atendidos, num total de quase 2 mil famílias. Destes, 8% apresentavam a doença e foram tratados. “Realizamos exames de diagnóstico em familiares e amigos próximos do paciente. Se confirmada a doença, o comunicante inicia o tratamento imediatamente. Caso o resultado seja negativo, aplicamos dose da vacina BCG para que, caso a pessoa venha a contrair a doença, ela se manifeste de forma benigna”, conta José Augusto Nery.

Rodrigo Méxas  

O atendimento realizado pela unidade do IOC inclui biópsias, pequenas cirurgias de fisioterapia e de neurologia, e assistência social.

O auxiliar de distribuição R.R., de 30 anos, diagnosticou a doença logo no início e terminou seu tratamento no ambulatório do IOC há um ano. “A dermatologista me disse que eu poderia buscar atendimento em uma das unidades de saúde que ofereciam o tratamento. Preferi o Ambulatório Souza Araújo porque é referência. Fiz meu tratamento, fui muito bem atendido e descobri que ninguém da minha família estava com a doença”, comemora o morador de Caxias que não apresenta nenhuma sequela e faz apenas exames de revisão.

Apesar do mesmo final feliz, o caso da dona de casa R.M., de 24 anos, foi diferente. Também moradora de Caxias, ela demorou mais de um ano para descobrir que era portadora da doença. “Por conta da demora no diagnóstico fiquei com lesões no rosto e quando comecei o tratamento no ambulatório do IOC e trouxe minha família descobri que havia transmitido a doença para minha filha de 7 anos e para minha mãe”, relata. Hoje, as pacientes já terminaram o tratamento. “O atendimento foi maravilhoso. No início, mesmo tomando os remédios, tinha medo de transmitir a doença e a equipe me explicou que não precisava me preocupar. Tinha vergonha até de sair na rua, mas agora estou muito bem”, desabafa. 

O Ambulatório Souza Araújo atua vinculado ao Laboratório de Hanseníase do IOC, estruturado em 1976, quando o então Instituto de Leprologia do Ministério da Saúde foi absorvido pelo Instituto. Desde então, o ambulatório alia o avanço do conhecimento científico à promoção da saúde da população. Assim, a partir dos casos acompanhados no serviço de ambulatório, são realizadas pesquisas de caráter clínico, epidemiológico e laboratorial, sempre com o consentimento livre e voluntário do paciente.

Sobre a hanseníase

O que é hanseníase?
A hanseníase é uma doença infecciosa crônica, causada pela bactéria Mycobacterium leprae e pode ser paucibacilar (PB) – quando o paciente apresenta de uma a cinco manchas pelo corpo – ou multibacilar (MB) – quando são encontradas mais de cinco manchas. Quando são paucibacilares, os pacientes não transmitem a doença. Os multibacilares sem tratamento, porém, podem transmitir o bacilo através das secreções nasais ou saliva. Pacientes em tratamento regular e pessoas que já receberam alta não transmitem a doença. O período de incubação, da infecção à manifestação da doença, tem duração média de três anos e a evolução do quadro clínico depende do sistema imunológico do paciente. Por essa característica, a hanseníase é mais comum em populações de baixa renda, desprovidas de alimentação e condições de saneamento básico adequadas.

Casos no Brasil e no mundo
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2007 a hanseníase registrava aproximadamente 225 mil casos em todo o mundo, sobretudo em países da África, Ásia e América Latina, que concentram 75% das ocorrências. Ainda de acordo com a OMS, apesar de muitas regiões terem conquistado a eliminação da doença, bolsões de alta endemicidade ainda persistem em países como Brasil, Angola, República da África Central, República Democrática do Congo, Índia, Madagascar, Moçambique, Nepal e Tanzânia.

Dados da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde informam que, em 2006, aproximadamente 40 mil novos casos foram registrados no país, o que corresponde à incidência de 1,41 novos casos por 100 mil habitantes – para a OMS, a doença é considerada erradicada quando a taxa de prevalência é inferior a 1 caso por 10 mil habitantes. No mesmo ano, o Estado do Rio de Janeiro registrou 2446 novos casos, sendo 713 ocorrências no município. Neste ano, 161 casos foram diagnosticados pelo Ambulatório Souza Araújo.

Sintomas
Manchas brancas ou avermelhadas sem sensibilidade para frio, calor, dor e tato;
Sensação de formigamento, dormência ou fisgadas;
Aparecimento de caroços e placas pelo corpo;
Dor nos nervos dos braços, mãos, pernas e pés;
Diminuição da força muscular.

Diagnóstico
A identificação da doença é essencialmente clínica, feita a partir da observação da pele, de nervos periféricos e da história epidemiológica. Excepcionalmente são necessários exames laboratoriais complementares, como a baciloscopia ou biópsia cutâneas.

Tratamento
A hanseníase tem cura e quando tratada em fase inicial não causa deformidades. O tratamento, denominado poliquimioterapia (PQT), é gratuito, administrado via oral e está disponível em unidades públicas de saúde de todo o Brasil. Para pacientes que apresentam a forma paucibacilar (PB) da doença, a duração do tratamento é de seis meses e para os que apresentam a forma multibacilar (MB), o tratamento dura um ano. Concluído o tratamento com regularidade, o paciente recebe alta e é considerado curado.

Renata Fontoura
23/01/09

Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz).

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