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Vacina anti-HIV: Mito ou realidade?

Há pelo menos duas décadas, a busca de uma vacina para a Aids é um dos grandes objetivos da biomedicina. Até agora, muito esforço foi feito, mas o avanço ainda é lento. Mariza Morgado, chefe do Laboratório de AIDS e Imunologia Molecular do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e atual Vice-Diretora de Pesquisa, Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do Instituto, discutirá os desafios no desenvolvimento de uma vacina anti-HIV,  nesta quinta-feira (22/10) durante o Simpósio França Brasil, realizado pela Fiocruz.

A pesquisadora traçará uma retrospectiva dos protocolos em andamento na comunidade científica internacional para elaboração de uma vacina. Atualmente existem mais de 50 protocolos em curso, mas a maioria ainda no estágio inicial do processo, no qual é verificada a segurança do protótipo. Um número menor atingiu, ao longo de duas décadas, a fase dois de estudos, quando é verificado se o produto induz a uma resposta imune. Apenas três projetos alcançaram a fase seguinte (IIb e III), que consiste em testes de eficácia: um primeiro na década de 1990 e outro concluído em 2007 (ambos abandonados pela inconsistência dos dados) e um último com resultados apresentados recentemente, em 2009.

Entre as dificuldades encontradas para produção de uma vacina eficaz, Mariza aponta alguns aspectos. O primeiro é que o HIV é um retrovírus, capaz de se integrar ao material genético do hospedeiro, o que impossibilita o uso do vírus atenuado para produção de vacina. Outra característica é a grande variabilidade e capacidade de recombinação do vírus, impedindo o sistema imune de montar uma resposta. O fato de não existirem pacientes curados também é outra barreira, pois não permite detectar os agentes de imunidades associados à proteção do vírus.

Em 23 de setembro deste ano, foi anunciada uma vacina com 30% de eficácia contra o vírus, desenvolvida numa cooperação entre os governos da Tailândia e dos Estados Unidos. Reuniram um total 16 mil pessoas, divididas em dois grupos, para participar de um protocolo de vacinação com quatro doses. Deste total, foi verificado cerca 30% de proteção. Os resultados oficiais deste protótipo de vacina serão detalhados hoje (20/10), em Paris, durante a Conferência de Vacinas da Aids.
 
“É muito difícil manter um protocolo com grande número pessoas e garantir que todos cumpram todo o processo de vacinação. Os cálculos de precisão serão realizados somente após a publicação destes dados e então saberemos qual é a eficácia de fato. Mas esta pesquisa sinaliza uma vantagem no sentido que foi a primeira vez que se mostrou algum nível de eficácia como este ou, pelo menos, uma diferença no número de infecções entre os indivíduos vacinados e aqueles que receberam placebo. No entanto, não foi observada nenhuma diferença quanto a carga viral plasmática nos dois grupos”, avalia Mariza.

A bióloga destaca outro ponto importante no debate da vacina anti-HIV: os protocolos em curso buscam a não evolução da doença no indivíduo infectado, já que uma vacina capaz de evitar a infecção, que ocorre por diversas vias, ainda é um objetivo distante de ser alcançado. “Se o indivíduo tem uma resposta imune capaz de estancar a passagem do vírus para outra célula, isso faz com que o sistema imune fique pouco comprometido. E com isso não se desenvolveria a doença”, explica.

Mapeamento dos tipos brasileiros

O isolamento do HIV tipo 1, na década de 1980, realizado por pesquisadores do IOC marcou o ingresso do Brasil no cenário internacional de pesquisa em Aids. O feito alavancou estudos que priorizam o aumento da qualidade de vida dos pacientes que vivem com o HIV. Parte deste trabalho é desenvolvida no Laboratório de AIDS e Imunologia Molecular do Instituto, que atua no mapeamento dos vírus circulantes em todo o país, bem como no monitoramento da capacidade dos indivíduos infectados reagirem a antígenos. ”Já identificamos vários subtipos circulantes do HIV nas diversas regiões brasileiras e a variabilidade destes vírus, o que é importante para avaliar a resposta imune dos indivíduos infectados. Numa perspectiva futura, este levantamento poderá gerar subsídios para potencializar a eficácia de uma vacina no país”, conclui.

AIDS no Brasil
De 1980 a junho de 2008 foram notificados 506.499 casos de Aids no país. Segundo critérios da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil tem uma epidemia concentrada, com taxa de prevalência da infecção pelo HIV de 0,6% na população de 15 a 49 anos. Os índices da doença são crescentes no Norte e Nordeste. Em números absolutos, o Brasil registrou 192.709 óbitos por Aids, de 1980 a 2006.

Serviço:

Simpósio França Brasil: Os desafios da ciência biomédica no início do século XXI
Data: 20 a 22 de outubro de 2009
Campus da Fiocruz - Manguinhos, Rio de Janeiro (RJ)
Programação e informações no www.fiocruz.br/simposiofrancabrasil

A palestra Vacinação HIV: Mito ou realidade? será apresentada no dia 22/10 (quinta-feira), às 11h.

Pâmela Pinto

20/10/09

Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz).

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