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Genômica funcional: desafios

Por que algumas pessoas ficam doentes e outras não? Por que cada uma reage de forma diferente aos mesmos tratamentos? A genômica funcional pode ter um papel central para responder a estas perguntas. O grande potencial de sua aplicação na pesquisa e prática clínicas foi tema da palestra do pesquisador Carlos Moreira Filho, do Centro de Pesquisas em Biotecnologia da Universidade de São Paulo, realizada na tarde desta quarta-feira, 09/06, durante o I Simpósio de Pesquisa e Inovação do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz).

Carlos abordou a possível utilização dos conhecimentos sobre a expressão dos genes humanos para, por exemplo, a detecção antecipada de fatores de risco para doenças e o desenvolvimento de tratamentos personalizados e mais eficazes. O pesquisador chamou atenção, ainda, para a importância de fatores ambientais no desenvolvimento da expressão gênica individual e apresentou casos de sucesso já existentes da aplicação desses conhecimentos no tratamento de doenças e estudos recentes sobre o tema.  

Gutemberg Brito

 

 Carlos Moreira Filho apresentou as muitas possibilidades que a genômica funcional pode oferecer para o desenvolvimento da clínica médica

Carlos Moreira apresentou um panorama das atuais áreas de atuação da genômica funcional, ciência que ganhou importância nos últimos anos, com a superação do conceito de DNA lixo. “As pesquisas realizadas nos últimos anos mostraram que, ao contrário do que pensávamos inicialmente, a maior parte do genoma humano codifica, porém o faz de forma silenciosa, sem gerar proteínas, o que não impede que seja funcionalmente importante”, explicou. “Cada um de nós tem um padrão único de perdas e ganhos de trechos inteiros de DNA e, mais do que isso, expressa esses genes de formas muito diversas, o que pode sim ser muito relevante para o aparecimento de doenças e para a resistência a tratamentos com certas drogas, por exemplo”, avaliou.

Durante a palestra, Carlos apresentou resultados de estudos genômicos sobre autismo, epilepsia, diabetes e câncer de mama, entre outras doenças. “Alguns destes estudos apresentam perspectivas promissoras no que se refere à identificação de fatores de risco, marcadores de gravidade, alvos terapêuticos e novos tratamentos para estas doenças”, analisou.

O pesquisador também explicou que, apesar de parecer ainda distante da prática clínica, a genômica funcional já é utilizada no dia a dia de áreas como a oncologia. “Em paralelo com as técnicas tradicionais, as análises moleculares da genômica funcional ajudam a definir marcadores de resposta às diferentes drogas, o que é fundamental para um tratamento personalizado e mais eficiente, e também como identificadores de risco de metástase, por exemplo”, afirmou. “No futuro, ela pode ajudar no tratamento e na prevenção de diversos tipos de câncer.”

Outro destaque da apresentação foi a importância dos determinantes ambientais (ou epigenéticos) na alteração da codificação de sequências genéticas. “Superamos a crença original de que o ambiente não seria capaz de influenciar o efeito dos genes. Herdamos uma determinada carga genômica e a influência ambiental gera mudanças epigenéticas, modificando a codificação dos genes, o que pode aumentar os riscos de desenvolvermos determinadas doenças ou nos dar mais fatores de proteção contra outras”, explicou Carlos. “Isso se dá principalmente dentro do útero, quando ainda somos muito sensíveis a estes fatores ambientais. As desregulações epigenéticas podem aumentar o risco de doenças como câncer, diabetes e doenças cardiovasculares”, avaliou. 

Segundo Carlos, algumas dessas alterações podem ter ajudado a espécie humana a superar momentos de adversidade, mas hoje aumentam o risco de doenças. “Por exemplo, se durante a gravidez a mulher não se alimentar direito, essa condição ambiental hostil acaba influenciando  a codificação dos genes do feto, de modo que ele tenha um tamanho menor, gere menos células e desenvolva sistemas menos complexos. Quando exposta a uma dieta inadequada, essa criança terá muito mais chances de desenvolver obesidade infantil, o que aumenta fatores de risco para doenças do coração e diabetes, por exemplo”, avaliou. “Para enfrentar as glaciações ou momentos em que o acesso a alimentos foi escasso, esse tipo de alteração epigenética pode ter sido importante, mas com as dietas hipercalóricas de hoje isso pode se tornar um problema.”

Também mereceu destaque as alterações na expressão de diversos fatores causados pela cesariana. “Determinados processos ocorrem de forma muito diminuída em bebês que nascem de cesariana em relação ao parto normal. Estudos indicam que estas alterações de codificação podem aumentar o risco, por exemplo, de alergia, diabetes, distúrbios de comportamento e até leucemia”, alertou. “Esse dado serve de alerta especialmente para as mulheres brasileiras, já que cerca de 57% das crianças nascem por cesariana. Esse é mais um exemplo da relação próxima que a genômica funcional pode estabelecer no futuro com a clínica médica", finalizou. 

10/06/2010

Marcelo Garcia

Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)

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