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Dengue: destaque em mesa sobre vacinas

A utilização de vacinas é uma das formas mais eficientes de controlar diversas ameaças à saúde pública, mas o desenvolvimento de imunizantes contra muitas doenças continua representando um desafio para a pesquisa. Esse foi o tema da mesa redonda que encerrou a programação do primeiro dia do I Simpósio de Pesquisa e Inovação do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), em 09/06. Pesquisadores do IOC, de Biomanguinhos e da Fiocruz/MG traçaram um panorama atual do estudo de vacinas contra dengue no mundo, destacando as linhas de pesquisa e resultados da Fiocruz na área, além de apresentarem estudos da Fundação para produção de vacinas contra outros agravos, como a leishmaniose e a esquistossomose. 

A palestra teve como moderadora a pesquisadora Miriam Tendler, do Laboratório de Esquistossomose Experimental do IOC, que apresentou um panorama da produção de vacinas e ressaltou a importância de estabelecer parcerias com instituições internacionais e com a iniciativa privada. “Entre 2005 e 2008, o mercado mundial de vacinas aumentou mais de 100%, passando de 11 para 25 milhões de dólares movimentados por ano”, afirmou. “No entanto, no Brasil as parcerias ainda são muito poucas, precisamos ir até as organizações internacionais e as empresas privadas e firmar parcerias, é preciso captar recursos e trabalhar em conjunto”, defendeu.

A pesquisadora apresentou algumas pesquisas da Fiocruz na área e destacou a parceria de seu laboratório com um empresa privada de fomento, que possibilitou um grande avanço no desenvolvimento de uma possível vacina contra helmintoses, principalmente a esquistossomose e a fasciolose hepática. “A parceria com a iniciativa privada nos possibilitou realizar o escalonamento para produção da vacina e o início dos testes clínicos. A fascíola parasita cerca de 300 milhões de cabeças de gado por ano, o que tem um enorme impacto financeiro”, explicou. “Essa parceria público-privada nos possibilitou ganhar um edital da Financiadora de Produtos e Projetos, a Finep. São ações de captação desse tipo que precisam ser feitas para impulsionar o desenvolvimento de novas vacinas, especialmente quando elas pode ter algum interesse comercial.”

Vacina contra leishmaniose para cães

Outra parceria entre a Fiocruz e uma empresa particular, apresentada pelo coordenador do Instituto Nacional de Ciências e Tecnologia em Vacinas (INCTV) e pesquisador da Fiocruz/MG, Ricardo Gazzinelli, pode levar ao desenvolvimento de vacinas contra leishmaniose para serem aplicadas em cães. “O cão é o principal reservatório da doença no meio urbano, por isso o desenvolvimento de uma vacina veterinária pode ajudar diminuir a transmissão da doença. A parceria com uma empresa produtora desse tipo de produto permitiu que avançássemos para a próxima fase, que consiste em testes nos próprios animais”, explicou.

Gutemberg Brito

 

 Ricardo Gazzinelli estimulou a criação de novas parcerias entre instituições públicas e privadas para o desenvolvimento de vacinas e defendeu o papel de vanguarda que instituições como a Fiocruz devem assumir

O produto desenvolvido no laboratório da Fiocruz não imuniza contra a leishmaniose, mas é capaz de reduzir a quantidade de parasito no sangue, protegendo o cão e atrasando o desenvolvimento da doença. “Por não alterar sua transmissão a vacina não entrará em nenhum calendário oficial de vacinação, mas pode oferecer alguma proteção aos animais e não interfere na diferenciação entre cães vacinados e contaminados pela leishmaniose, como determina a Organização Mundial da Saúde” ponderou o pesquisador. A orientação da entidade em caso de infecção canina é o imediato sacrifício do animal, para evitar epidemias da doença. Nos próximos anos, serão realizados estudos com maior quantidade de cães.
     
Ricardo também reforçou que, por coordenar o INCTV, a Fiocruz precisa assumir seu papel de referência no desenvolvimento de novos imunizantes. “Precisamos ter consciência de nossa importância. Temos a responsabilidade de atuar no desenvolvimento de novas vacinas, em especial contra as doenças chamadas negligenciadas”, defendeu.
 
Vacinas recombinantes e inativadas contra dengue

Dando prosseguimento à mesa, a pesquisadora Elena Caride, do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Biomanguinhos/Fiocruz), apresentou um panorama das pesquisas desenvolvidas na Fiocruz para a criação de vacinas contra a dengue. “As linhas de pesquisa da Fundação utilizam metodologias diversas e procuram desenvolver vacinas tetravalentes, ou seja, que imunizem contra os quatro sorotipos da dengue simultaneamente. Apesar de não ter sido registrado ainda no Brasil, o sorotipo 4 está presente em nossos vizinhos da América do Sul e é muito possível que acabe também entrando no país”, acredita. “A proteção simultânea também é fundamental. Cada sorotipo gera imunidade específica duradoura. Porém, ao entrar em contato com um sorotipo para o qual não estamos imunizados, depois de termos tido contato com outro, aumentam as chances de manifestações mais graves”, afirmou.  

Gutemberg Brito

 

 Elena Caride apontou as principais iniciativas da Fiocruz no desenvolvimento de vacinas contra dengue e traçou panorama mundial na área

A pesquisadora apresentou as duas principais linhas de pesquisa da Fundação para o desenvolvimento de um imunizante contra a dengue, ambas em estágio de testes pré-clínicos. A primeira baseia-se na criação de uma vacina recombinante baseada na vacina contra a febre amarela, utilizando os quatro sorotipos da dengue. “A vacina contra febre amarela existe há décadas, é segura e induz uma proteção duradoura, por isso é ótima base para o desenvolvimento de novas vacinas”, acredita. “No entanto, há alguns desafios nesse desenvolvimento e ainda são necessárias novas formulações e testes com possíveis doses de reforço”, avaliou. 

Outra vacina em desenvolvimento, em parecia com a multinacional GSK (GlaxoSmithKline), baseia-se nos vírus inativados. “Já existem vacinas atenuadas contra outros flavivírus, como os associados a diversas encefalites, por exemplo”, lembrou Elena. “Vacinas desse tipo possuem algumas vantagens em relação àquelas feitas com base em vírus apenas atenuados, como um calendário de imunização possivelmente mais curto, além de poderem ser aplicadas em todas as faixas etárias e possuírem menos contra-indicações”, avaliou.

Elena apresentou, ainda, um panorama das pesquisas de vacinas contra dengue no mundo. “Existem muitas linhas de pesquisa, baseadas em diversas metodologias, sendo realizadas por instituições de todo o mundo”, afirmou. “A mais adiantada hoje é a do Sanofi-Pasteur, que já alcançou a fase três. Também baseada na vacina contra a febra amarela, é parecida com a da Fiocruz e já conseguiu atingir 100% de imunização contra todos os tipos. O problema é que são necessárias três doses para completar a imunização, com diferença de seis meses entre cada uma. Dessa forma, após a primeira dose antes da imunização se completar, há uma janela de 18 meses – incluindo ao menos um verão nesse período - em que a possibilidade de uma possível infecção evoluir para caso mais grave pode ser aumentada, pois a pessoa já possui anticorpos contra a doença, assemelhando-se a um caso de re-infecção”, explicou a pesquisadora. 

Vacina recombinante contra muitas doenças

Encerrando a mesa, a pesquisadora do Laboratório de Biologia Molecular de Flavivírus do IOC, Myrna Bonaldo, apresentou detalhes sobre a pesquisa de vacina contra a dengue desenvolvida no Instituto com base no imunizante contra a febre amarela. “Como esta vacina já existe há 70 anos, nosso desafio é criar, a partir dela, vírus viáveis e geneticamente estáveis. Ainda enfrentamos problemas como a dificuldade de estabilizar as formulações recombinantes e a interferência na imunidade induzida, produzida pela presença dos quatro sorotipos”, explicou.

Gutemberg Brito

 

 A pesquisadora Myrna Bonaldo apresentou os principais aspectos de sua pesquisa para vacina recombinante de dengue

Além da importância como possível plataforma para uma vacina contra a dengue, a cepa vacinal da febre amarela pode ser a chave para o desenvolvimento de outros imunobiológicos, como afirma Myrna. “Já estamos pesquisando, por exemplo, a utilização de vírus recombinantes em vacinas contra a malária e até a doença de Chagas”, revelou. “Por isso, é ainda mais fundamental o desenvolvimento dessa técnica, que pode trazer muitos frutos para a luta contra algumas das principais ameaças à saúde pública mundial.”  

11/06/10

Marcelo Garcia

 
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