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Compromisso com a saúde e a educação

Parasitoses intestinais, diagnóstico da hepatite B e ensino de química são temas de teses vencedoras do Prêmio Alexandre Peixoto 2018

:: Conheça outras teses premiadas

Com abordagens inovadoras, três pesquisas ganhadoras do Prêmio Anual IOC de Teses Alexandre Peixoto 2018, entregue nesta terça-feira (11/09), durante sessão extraordinária do Centro de Estudos do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), buscam contribuir para o acesso à saúde e o exercício da cidadania. Criado em 2013 para contemplar, anualmente, as melhores teses desenvolvidas por doutorandos dos Programas de Pós-graduação Stricto sensu do IOC, a premiação é uma homenagem ao pesquisador Alexandre Peixoto, falecido precocemente no mesmo ano.

Indo da produção de materiais educativos à caracterização genética dos parasitos, a tese da bióloga Maria Fantinatti Fernandes da Silva visa gerar instrumentos para auxiliar no controle da giardíase, parasitose intestinal que afeta, sobretudo, as crianças. O desenvolvimento de métodos alternativos para reduzir custos e permitir o diagnóstico da hepatite B em amostras de saliva está no centro do estudo da biomédica Moyra Machado Portilho. Já o trabalho da professora de química Ana Paula Sodré da Silva Estevão elabora uma história em quadrinhos sobre o tema lixo eletrônico para promover o ensino da disciplina conectado ao contexto social.

Rotas da giardíase
Causada pelo protozoário Giardia lamblia, a giardíase é uma infecção intestinal que ocorre principalmente em crianças, podendo provocar diarreia e reduzir a absorção de nutrientes. No estudo ‘Caracterização de genótipos de Giardia lamblia e ferramentas de educação em saúde como estratégias de prevenção da giardíase’, a bióloga Maria Fantinatti Fernandes da Silva demonstra a alta frequência do agravo em creches de duas comunidades da região metropolitana do Rio de Janeiro e aponta possíveis rotas de transmissão da infecção. De forma inédita, o trabalho identifica a presença significativa em pacientes de uma variedade do parasito associada a animais de fazenda, como gado e porcos – um achado que pode impactar nas estratégias de controle da doença. Desenvolvido na Pós-graduação em Medicina Tropical do IOC sob orientação da pesquisadora Alda Maria Da-Cruz, chefe do Laboratório Interdisciplinar de Pesquisas Médicas do Instituto, o estudo contemplou ainda ações educativas para prevenção de parasitoses intestinais entre pré-escolares.

Foto: Gutemberg Brito

Maria Fantinatti destacou a necessidade de investimentos em saneamento para prevenir a disseminação de parasitoses intestinais

As duas creches incluídas na pesquisa estão localizadas em comunidades pobres do Rio de Janeiro e de Belford Roxo, na Baixada Fluminense, onde há aglomeração em muitos domicílios, fornecimento de água tratada irregular ou inexistente e ausência de rede de coleta de esgoto. Na instituição carioca, os exames parasitológicos de fezes das crianças apontaram taxas de 49% de infecção por G. lamblia em 2014 e 39%, em 2015. Já na creche de Belford Roxo, o índice ficou em 14% em 2015. Entre os funcionários, a parasitose foi identificada em um trabalhador da creche do Rio, em 2015. Considerando a alta taxa de infecção, a pesquisa avaliou possíveis origens da contaminação na comunidade carioca. A água da creche mostrou-se livre do parasito. Por outro lado, entre quatro amostras de água de residências de crianças infectadas analisadas, duas foram positivas para G. lamblia, sendo ambas originadas em uma mina.

A caracterização genética dos parasitos revelou a presença de protozoários do genótipo A nos casos da Baixada Fluminense, enquanto no Rio, foram encontrados parasitos dos genótipos A, B e E, o que surpreendeu a autora da pesquisa. “Os genótipos A e B são conhecidos por infectar o homem e diversos animais, enquanto o genótipo E é apontado pela literatura científica como específico de animais de fazendo. Esse achado muda o paradigma, apontando a possibilidade de um novo ciclo antropozoonótico, que precisa ser estudado”, afirma Maria. A orientadora do trabalho ressalta a importância da abordagem multidisciplinar para os resultados alcançados. “A tese une aspectos de pesquisa de ponta, como a caracterização genética dos parasitos, com análises de parasitologia e de epidemiologia, além da educação em saúde. Essa combinação foi fundamental para detectar a alta prevalência da doença e apontar possíveis vias de transmissão”, ressalta Alda.

Acesso ao diagnóstico
Baseados na detecção da presença do DNA do vírus da hepatite B no soro, os testes moleculares são importantes para monitorar a evolução dos pacientes com doença crônica, determinar a necessidade de tratamento com medicamentos e acompanhar o efeito da terapia. Com o objetivo de ampliar o acesso a esse tipo de diagnóstico, a tese da biomédica Moyra Machado Portilho apresenta metodologias que podem ser implantadas em laboratórios com custo reduzido em relação aos testes comerciais. O trabalho aborda ainda o diagnóstico a partir de amostras de saliva, o que pode ser uma vantagem em casos de dificuldade de coleta de sangue, como ocorre frequentemente com idosos, crianças e pessoas que passam por hemodiálise. Desenvolvido na Pós-graduação em Medicina Tropical do IOC, o estudo ‘Avaliação de testes moleculares para detecção e quantificação do vírus da hepatite B em amostras de soro e fluido oral' foi orientado pela pesquisadora Livia Melo Villar, do Laboratório de Hepatites Virais do IOC.

Foto: Gutemberg Brito

De acordo com Moyra Portilho, os testes desenvolvidos na tese podem reduzir os custos do diagnóstico molecular da hepatite B

Entre outros resultados, a pesquisa compara três metodologias para detecção do DNA viral (chamadas de metodologias de PCR qualitativas), apontando uma com maior concordância com os testes comerciais. O trabalho também apresenta um método para quantificação do material genético do vírus (chamado de método de PCR quantitativo) que atingiu 85% de concordância com um exame comercial em amostras de soro e apresentou potencial para utilização em amostras de saliva. A avaliação de diferentes formas para coleta de saliva demonstrou ainda que a escolha do coletor pode impactar no sucesso do exame, indicando o coletor da marca Salivette como o mais eficiente.

“Considerando que os métodos comerciais são caros e não estão disponíveis em todos os laboratórios do país, a padronização de metodologias in house (desenvolvidas internamente nos laboratórios) pode ampliar o acesso ao diagnóstico molecular, oferecendo um melhor acompanhamento aos pacientes com hepatite B crônica”, destaca Moyra, acrescentando que mesmo nos casos de pacientes com hepatite B oculta, que apresentam uma baixa carga viral, foi possível padronizar um método com alta sensibilidade para o diagnóstico. A orientadora do estudo ressalta ainda que a pesquisa traz avanços importantes para que o diagnóstico da hepatite B possa ser realizado também em amostras de saliva. “Os testes rápidos em saliva já são usados para diagnóstico de HIV e outras infecções. Embora ainda sejam necessários mais estudos para aumentar a sensibilidade dos métodos de diagnóstico de hepatite B em amostras de saliva, a tese aponta que isso é possível e traz uma contribuição importante ao apontar o método mais adequado para coleta desse tipo de amostra”, afirma Lívia.

Química no contexto social
Professora de química no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro, no campus de Duque de Caxias (IFRJ-CDUC), Ana Paula Sodré da Silva Estevão buscou enfrentar em sua tese barreiras que ainda fazem com que o modelo expositivo de ensino domine grande parte das aulas de química no Brasil. Na pesquisa “História em quadrinhos no ensino de química como estratégia didática para abordagem do tema ‘lixo eletrônico’”, a recém-doutora desenvolve uma ferramenta didática que apresenta o conteúdo de química de forma articulada a uma questão social e ambiental de alto impacto na sociedade atual, utilizando uma linguagem atraente para os estudantes. Defendido na Pós-graduação em Ensino em Biociência e Saúde, o estudo foi orientado pelo pesquisador Marco Antônio Ferreira da Costa, professor da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJ/Fiocruz).

Foto: Gutemberg Brito

Ana Paula enfatizou que a história em quadrinhos elaborada na tese permite discutir o tema lixo eletrônico de forma interdisciplinar

A criação da revista contou com um levantamento teórico e com oficinas realizadas com estudantes de licenciatura em química do IFRJ-CDUC sobre o uso de histórias em quadrinhos como ferramenta didática e o tema lixo eletrônico. Em seguida, o roteiro foi elaborado coletivamente pelos licenciandos e pela autora da tese, em colaboração com o artista Hamilton Manoel da Silva Junior. A narrativa contemplou questões ambientais e sociais, como o consumismo, a obsolescência programada e a contaminação ambiental, assim como conteúdos específicos de química, como metais, tabela periódica, polímeros e combustão. O produto final foi analisado por docentes do IFRJ-CDUC, que avaliaram a revista positivamente, tanto do ponto de vista estético quanto em relação à abordagem do conteúdo da disciplina, embora tenham mencionado possíveis dificuldades para trabalhar com quadrinhos em sala de aula.

“Problematizar o tema lixo eletrônico no ensino de química é uma forma de mostrar aos alunos que o conteúdo da disciplina tem impacto na vida deles. O ensino de ciências articulado ao contexto social é fundamental para promover a participação ativa nas discussões da sociedade e o exercício pleno da cidadania”, ressalta Ana Paula, acrescentando que é importante abordar metodologias contemporâneas na formação inicial dos professores, como ocorreu nas oficinas realizadas durante a pesquisa, para facilitar a adoção dessas práticas no dia-a-dia das salas de aula. O orientador destaca que a tese incorpora a dimensão lúdica a situações reais de agravos sociais e ambientais. “O lixo eletrônico é um tema estratégico, haja vista a escalada da produção, do consumo e do descarte desses materiais. Ao gerar um produto, a tese poderá contribuir para o processo ensino-aprendizagem da química, motivando alunos e professores para a compreensão e atitudes sobre essa realidade”, completa Marco.

Reportagem: Maíra Menezes
Edição: Vinicius Ferreira
11/09/2018
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